segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Eu, Tu... Todos Nós!




Estava em casa quando resolvi baixar algumas músicas da Internet. Hoje em dia a tecnologia nos permite gravar um cd sem pagar o absurdo que estão cobrando. Procurei, primeiramente por Ivan Lins. Logo após terem sido concluídos os “downloads”, achei que seria interessante puxar da rede algumas músicas do Oswaldo Montenegro.

Baixei, dentre tantas, “A Lista” e a poesia “Metade”. Creio que todos deveriam escutar estas obras de arte. A lista fala de nossos planos esquecidos pelo tempo, pela rotina, pelos compromissos, por uma vida que nunca pensávamos em ter, pois nossos desejos eram outros. Escutando esta música lembrei da minha infância e adolescência. A inocência de uma criança que brincava com o carrinho de rolimã na frente de casa acabou. As brincadeiras na rua com os guris da mesma idade. As bobagens engraçadas que falávamos e hoje não passam de palavras perdidas e sem nexo.

Meus amigos e minha infância mexem muito comigo, então, escutar a música que falo foi como se um filme passasse na minha cabeça. Um filme de boas lembranças e outras nem tão boas assim. Senti saudade dos amigos, aqueles que podemos chamar de amigos mesmo. Senti vontade de voltar no tempo e fazer tudo igual como eu fiz quando era criança. Lembro que, quando brincava com meus amigos, sempre dizia que tinha vinte e poucos anos. Ah! Que tolice... Hoje gostaria de ter meus oito, nove ou dez anos e dizer a eles que gostaria de ser criança para sempre.

Comparei amigos de onde moro e os de infância e percebi que são incomparáveis, pois são diferentes e o momento é outro, também. As responsabilidades vão aparecendo e nem foi preciso chamá-las. Responsabilidade é uma coisa que sempre sonhei. Morar sozinho, ter meu carro, ter minha filha, enfim, coisas que passam pela cabeça de qualquer pessoa e depois, quando nos deparamos com o começo de uma vida responsável, nos perguntamos, aliás, eu me perguntei: estou pronto para isso tudo?

Quando pequeno, lembro que posicionava minha coleção de carrinhos um em frente ao outro e colocava sempre um boneco de pé no primeiro carro... Dizia que era eu e que tinha sido eleito governador do estado. Atualmente, ainda sonho com isso só que a caminhada já está se tornando diferente. Agora acabou a brincadeira.

Queria ter várias casas. No campo, na cidade, na praia e na Espanha, também. Nossos planos mudam. Penso, hoje, em ter uma casa no lugar onde eu puder trabalhar e conseguir me sustentar. Não quero ostentações, nem helicópteros e nem ser dono de time de futebol, muito menos de banco, como pensava quando criança.

Meus amigos acabaram sumindo com o tempo. Correspondemo-nos pelo site de relacionamentos, Orkut, ou pelo MSN e mesmo assim as conversas são vagas, rápidas e superficiais. Alguns, a maioria, confesso, nem assim nos falamos. Ficaram os grandes amigos, aqueles que defendemos em qualquer situação.

A música “A Lista” fala das mudanças que acontecem conosco e que somos obrigados a nos adaptarmos a ela para podermos pagar uma conta no final do mês, por exemplo. Tudo muda! Nossos planos mudam a todo o momento. Nossa maneira de pensar sobre alguma coisa muda.
Aí, resta uma pergunta: a mudança é tão válida a ponto de ignorarmos amigos, conceitos, princípios que defendíamos no passado e etc?

Depois, anestesiado pelas lembranças da infância, dos meus planos do passado e sobre um monte de coisas que vieram à tona na minha mente quando escutei “A Lista”, cliquei no “play” e acabei de descobrir a explicação para todos os seres humanos. “Metade” é uma poesia sem rima em que uma pessoa se descreve.

A minha infância voltou à mente e mais coisas pulsaram em pensamentos luminosos que me deixaram com vontade de chorar. Somos todos iguais!!! Os seres humanos são contraditórios, pois falam o que querem falar, mas quando precisam ouvir se recusam. O ser humano é medroso, porém, poucos corajosos assumem esta condição.

“Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo!” Um trecho da poesia referida. Uma análise sobre como nos comportamos. A parte mais bonita é a seguinte: “Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância. Por que metade de mim é a lembrança do que fui, mas a outra metade eu não sei.”.

Encontrei-me numa análise sobre como eu fui, como sou e tentei analisar como serei no futuro. Não sei descrever-me em nenhum destes tempos. Sou eclético, indeciso e inseguro do que quero. Às vezes, quando penso ter conseguido tudo e estar em paz, uma nuvem de pontos de interrogações se aproxima de minha cabeça e ela começa a jorrar larvas, transformando-se em um vulcão em plena erupção.

Portanto, somos, ou melhor, sou um ser como todos os outros. Contraditório, mas ao mesmo tempo convicto. Impaciente com a paciência. Realista com a fantasia de um mundo melhor. Prático quando romântico. Sincero com o cinismo no rosto, estampado em um sorriso.

Somos quem somos. Somos pais, filhos, netos, bisnetos, vizinhos, amigos, primos, enfim. Somos nós... Até a morte.
“E que a minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor... E a outra metade também.”

Brasil, Literalmente!




É tão decadente o tempo em que vivemos atualmente. Em plena democracia social, que votamos nas pessoas em que pensamos serem as melhores opções, com suas idéias maciças sobre a política social, sobre a economia, sobre o bem estar. Mas será que só votar é válido? Será que somente assistir aos fatos no Jornal Nacional nos torna cidadãos? Cadê a nossa vontade de sermos atuantes na política? A nossa vontade de fazermos justiça para os injustiçados, para os pobres, que são só lembrados nas eleições, cadê?

Nossa comodidade é tanta que parecemos paralisados num total efeito de tranqüilizantes de faixas pretas ou na eterna viagem alucinante e que nos ilude quando tragamos uma fumaça de maconha. Na verdade o jeitinho brasileiro nos decompõe a cada dia, fazendo com que nós não sejamos nós mesmos frente a uma situação caótica e que exige atitude.

Ninguém mais exige o correto, o certo, o coerente de um político eleito por uma população cansada de ter esperanças, em vão. Gostaria que tivéssemos a cabeça dos franceses, onde lá, o que está errado é dito em praça pública por estudantes, empregados, cidadãos, enfim.

Não estamos na ditadura. Tudo pode ser dito sem meias palavras e nada vai nos acontecer, pois temos uma constituição liberal e que defende o poder da palavra, da expressão, porém, expressar com responsabilidade e sem vulgaridades. Então, por que não falamos em alto e bom tom o que sentimos? Porquê não nos tornamos mais românticos e lutamos a favor daquilo que queremos para ninguém mais que nós mesmos? Porquê a comodidade de um “emaconhado”?

Lembremos do nosso passado negro, em que nada de expressão poderia ter espaço: o caso Vladimir Herzog. Um homem inteligente, pai de família. Um marido carinhoso e um excelente jornalista. Lutava por um país sem governo, sem comando ou um comando organizado, ou seja, para a sociedade. Era comunista. Seu erro: romântico, sonhador e falava demais para a época.

Outro erro: não tinha medo. A falta deste medo deveria ser a falta de hoje, porém, acontece o contrário. Atualmente, temos medo de falar. Apesar de todos sabermos que a ditadura acabou e tudo pode ser dito. Uma morte com muitos mistérios e uma certeza: Vlado foi morto por lutar contra o governo. Lutava a favor de uma sociedade justa, sejam negros, mulheres, homens, desempregados, gays, enfim. Lutava para todos e por todos.

Vlado tinha meios de fazer-se ouvido. Trabalhava no jornal “O Estado de São Paulo”. Tinha a imprensa a seu favor e podia influenciar qualquer pessoa que gastava moedas para comprar um exemplar do jornal onde denunciava um governo falido, hipócrita e sem escrúpulos. A morte foi o destino de um “louco”. Mas que louco é este que luta por todos, enquanto todos dormem e se rendem à má administração de um país. Gostaria de ter a loucura dele.

Não precisamos lembrar de décadas atrás. Outro fato ocorrido há bem pouco tempo: o caso Tim Lopes. Após sua morte o país ficou de luto. Ora, quanta hipocrisia! O que foi feito? O Tim ganhou uns prêmios, onde sua família o representou, pois ele não estava mais ali para recebe-los, obviamente. Enquanto sua família, indignada, recebia as belas palavras dos hipócritas, que babavam no ovo dos Lopes, Tim adormecia em berço esplêndido. Berço, este, que ele tanto lutou a favor. Morreu tentando combater o tráfico de mulheres em uma das favelas mais violentas do Rio de Janeiro.

Tim, jornalista que trabalhava para a Rede Globo, estava investigando o tráfico de mulheres. Ele morreu lutando a favor de vaginas inocentes, virgens, de meninas que nem o conheciam e garanto que nem faziam questão de conhece-lo. Não faziam questão de conhecer o seu herói... O cara que morreu tentando salva-las.

Tim também não fazia questão de que a mídia o aplaudisse de pé e nem a sociedade. Queria denunciar a corrupção de corpos inocentes, frágeis, lindos de meninas com doze, treze, onze anos. Meninas que brincavam de bonecas e que sonhavam com uma vida de princesa como a de Diana.

Tim Lopes morreu tentando falar e não conseguiu, enquanto vivo, pois depois que foi morto a sociedade parou para ouvir o que tinha para dizer. A ditadura não existia mais quando isto aconteceu, mas as milícias organizadas e cruéis dos traficantes sem caráter estavam vivas e ainda estão, com muito mais vigor, pois conseguiram combater inimigos grandes: a imprensa, a Globo e a boa vontade de pessoas como o próprio Tim.

Um cara romântico, simples, que levava uma vida normal. Queria uma sociedade justa, já que o governo estava acomodado com seus baseados, enrolados com notas e notas de dinheiro. Aliás, deve ser assim os enroladinhos de maconha dos nossos governantes. É óbvio! Já que não têm onde gastar seus dólares, reais, euros... Eles, com certeza, devem usar algumas notinhas para enrolar seus baseados. Um tapa na cara de quem luta por dez reais por dia.

Ao mesmo tempo em que temos uma constituição protetora, liberal, temos uma máfia que nos mete medo. A máfia dos traficantes milionários. O único governo organizado do Brasil é o governo dos traficantes. Sabem bem o que querem e o conseguem quando e como querem. O próprio governo federal, estadual e municipal de todos os cantos do país não consegue, pois precisam de requerimentos, memorandos, ofícios e uma burocracia irresponsável e burra.

E se vivêssemos em uma ditadura, ainda? Como seria a sociedade? Como seriam nossas vidas? Talvez, se estivéssemos num momento ditador as pessoas resolveriam falar, como falavam em sessenta e quatro, quando centenas e centenas de estudantes da UNE foram presos, inclusive meu pai.

Se, aumentam os valores das passagens municipais dos ônibus, ninguém fala nada. Aceita-se. Cumpra-se, como nos mandados judiciais, onde os juízes assinam após o escrito “cumpra-se”. Uma ordem do magistrado, após a decisão final.

Se a antiga CPMF volta com outro nome... O povo ri e começa os preparativos para mais um carnaval para mais uma pornografia explícita na Sapucay e em todas as ruas do Brasil. Aliás, o carnaval é a submissão do povo ao governo. Enquanto o país afunda e nada é discutido, nós, o povo, ri, brinca, se diverte e bebe, numa ilusão que termina na quarta - feira de cinzas, quando tudo volta ao normal.

Para quê complicar se podemos fazes “vistas grossas?” Para quê complicar se podemos facilitar e fingir que está tudo bem. Tudo para não termos mais cabelos brancos ou rugas de expressão. Enquanto cuidamos de nossas belezas hipócritas o povo da França luta pelos direitos sem medo e sem vergonha de serem felizes. Radiantemente felizes.

O Brasil, o povo brasileiro precisa de uma injeção de realidade. Não são os poderosos que contém o poder. Não! Lembram como o Collor caiu? Lembra como conseguimos uma constituição? Caras pintadas, Lula, Betinho e Ulysses Guimarães dividindo o mesmo palanque a favor dos brasileiros. Milagre!

Foi a única vez que vemos pessoas de punho firme lutando por nós. Na maioria das vezes vemos os colarinhos brancos embolsando granas e mais granas, como na crise dos Correios.

Mas, sejamos francos e sinceros, sobre o social o Lula está indo bem. Na economia também. Concursos públicos vêm como cascatas fluorescentes e brilhosas em quedas livres.

E o Brasil vai indo... Com concursos públicos para as pessoas acomodadas que sentam a bunda em uma cadeira e começam a ganhar mais e mais a cada ano, por causa de uma gratificação incorporada e a vida vai passando, ás vezes, sem muitas coisas boas e muitas ruins, mas falar para que, para quem, se está tão bom assim?